Com cantos das mulheres Guajajara e o eco coletivo da frase “A Resposta Somos Nós”, o Podáali – Fundo Indígena da Amazônia Brasileira lançou, nesta sexta-feira (14), no âmbito da COP30, em Belém (PA), a 3ª Chamada “Guardiãs da Amazônia: Mulheres que defendem as vidas e a justiça climática”, um edital dedicado exclusivamente às mulheres indígenas amazônidas. A iniciativa é realizada em parceria com a União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB) e marca um momento histórico de fortalecimento do protagonismo feminino na construção de soluções climáticas a partir dos territórios.

O lançamento ocorreu na tenda da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), no espaço da Cúpula dos Povos da Universidade Federal do Pará (UFPA), reunindo mais de 150 lideranças indígenas entre mulheres, homens, jovens e anciões. A terceira chamada, lançada no âmbito da conferência do clima da ONU, foi celebrada como um exemplo concreto de que o financiamento direto às comunidades é possível e fortalece ações que já acontecem no chão dos territórios.

Emocionada e relembrando os passos que foram dados para chegar até este momento, a Coordenadora da UMIAB, Marinete Tukano, falou sobre o processo de construção da chamada, afirmando que esta é a primeira vez que um instrumento como esse é elaborado “do jeito das mulheres indígenas e para elas”. Segundo ela, a chamada reflete a identidade, as necessidades e os sonhos das mulheres da Amazônia, que participaram ativamente de todo o processo de construção.

“Essa chamada nasceu verdadeiramente nas mãos das mulheres indígenas, tem a nossa cara, o nosso sentimento e o nosso sonho. Não foi um processo fácil, mas, pela primeira vez, nada veio de cima para baixo; foi feito lado a lado, por cada uma de nós, a partir dos territórios. Que este lançamento abra caminho para muitas outras chamadas”, destacou Marinete.

O Podáali demonstra na prática o financiamento direto, destacou o presidente do Conselho Deliberativo e Coordenador Geral da COIAB, Toya Manchineri, que reforçou que o lançamento exclusivo para mulheres expressa o compromisso real do fundo com iniciativas lideradas por elas. Ele afirmou que o Fundo Indígena demonstra na prática aquilo que muitos utilizam apenas como discurso: “Aqui a gente faz primeiro, para depois discursar”, disse. Toya relembrou que o fundo destina grande parte dos recursos captados diretamente aos territórios e ressaltou que cada liderança, mesmo sem aportar recursos financeiros, é investidora quando mobiliza ideias, articula parceiros e fortalece a gestão coletiva do movimento.

A Diretora Executiva do Podáali, Valéria Paye, enfatizou que a terceira chamada chega em um momento crucial do debate climático mundial e reconhece o papel das mulheres indígenas, que são as primeiras a sentir os efeitos da crise e também as primeiras a enfrentá-la. Ela destacou que as mulheres são guardiãs das sementes, dos rios, dos saberes e dos modos de vida e que reconhecê-las de forma concreta, e não apenas no discurso, é fundamental para fortalecer a resistência e o cuidado com a Mãe Terra.

“Essa chamada é nossa, das mulheres indígenas. Os projetos apoiados são projetos das mulheres, não é do Podáali, e só vão dar certo se cada uma de nós assumir esse compromisso coletivo”, destacou Valéria Paye.

O lançamento evidenciou o fortalecimento do Podáali como o primeiro fundo indígena da Amazônia, criado e gerido pelos próprios indígenas, com o objetivo de garantir autonomia, apoiar iniciativas já existentes e chegar de forma direta, ágil e justa às comunidades. Entre falas, cantos e celebrações, a mensagem que guiou o encontro foi a mesma que tem sustentado a caminhada coletiva: nada deve ser construído de cima para baixo, e sim lado a lado.

O evento foi finalizado com muita celebração, no ritmo da música “Farinhada”, cantada pela pequena Yará Sateré-Mawé. Para as mulheres presentes e para aquelas que acompanharam à distância, a chamada representa uma oportunidade de continuar fortalecendo os projetos que já transformam vidas, territórios e futuros. Como disse Marinete, “o que é construído coletivamente dura muito mais”, e é com essa força que as guardiãs da Amazônia seguem protagonizando a defesa das vidas e da justiça climática.

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