Na tarde desta quinta-feira (23), a Diretora Executiva do Podáali – Valéria Paye – participou do painel Fundos geridos por comunidades na Amazônia brasileira (Povos Indígenas e comunidades tradicionais), da conferência GLF Amazônia Ponto de Inflexão: Soluções de Dentro para Fora. O evento é promovido pelo Fórum de Paisagens Globais e contou com a participação de representantes do Podáali, Fundo Dema e Fundo Babaçu. A mediação foi feita por Aurélio Vianna.

A discussão, que aconteceu em três idiomas – Português, Inglês e Espanhol – iniciou com a mensagem de abertura de David Kaimowitz, da UNFAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura).

Valéria Paye – do povo Tiriyó/Kaxuyana – iniciou falando do histórico de surgimento do Fundo. A gestora aponta que há 20 anos o movimento indígena vem discutindo uma forma de potencializar as iniciativas nos territórios indígenas. Em 2020, com o protagonismo da COIAB e a partir de experiências adquiridas com a caminhada das lideranças, o fundo foi tirado do papel e passou a se estruturar no primeiro ano de funcionamento. “O Podáali é parte dessa rede, dessa teia, que forma o movimento indígena”, ressalta a Diretora.

A criação do Podáali surgiu porque, segundo Valéria, os povos indígenas têm um histórico de cuidado das florestas, mas os apoios para a proteção da natureza chegam em quantidades pequenas nas Terras Indígenas. “Na sua essência, os povos indígenas têm cuidado com o território e com o meio ambiente, mas os apoios chegam de forma limitada”. O Podáali, nesse sentido, foi criado no contexto de dificuldade de acesso a recursos, como foi destacado pela gestora.

Os desafios para o funcionamento do Fundo já iniciaram na sua criação, que aconteceu em janeiro de 2020, no início da pandemia causada pela Covid-19. O processo de cuidado com a pandemia diminuiu os passos iniciais do Podáali, que também foi afetado pela dificuldade de diálogo dentro do contexto político que se iniciava no Brasil. Valéria apontou ainda outro enfrentamento que ainda hoje tem gerado reflexão dentro da instituição: “Uma situação que nós temos nos deparado é a conciliação, ou interlocução, da cosmovisão indígena com as regras da sociedade”, disse a Diretora ao tratar das legislações que não foram pensadas para lidar com a diferença social e cultural existente em território brasileiro.

A Diretora Executiva ainda tratou das recomendações para o diálogo com futuros apoiadores do Fundo Indígena. “Há um certo desconhecimento sobre as realidades e as diversidades e principalmente as diferentes organizações sociais indígenas”, apontou Valéria. A representante do Podáali alertou que a filantropia ainda tem dificuldade de reconhecer os modos próprios de organização e governança interna dos povos indígenas no acesso aos recursos doados. Ao fechar o assunto, Valéria criticou: “A burocracia acaba engolindo as formas próprias de organização indígena, que barra e exclui o acesso dos povos indígenas aos recursos”.

Para finalizar o debate, que aconteceu em diálogo com Maria das Graças Costa, do Fundo Dema, ainda foi discutido sobre a valorização do protagonismo das mulheres na Amazônia, mercados institucionais, agricultura familiar, articulação dos fundos, participação da juventude e enfrentamento às mudanças climáticas. As gestoras aproveitaram e encerraram suas falas trazendo uma mensagem para aqueles que pretendem se envolver com o apoio às iniciativas sustentáveis na Amazônia. “Ajudem a potencializar as nossas vozes”, resumiu Graça. Valéria Paye, por sua vez, exclamou: “Precisamos somar forças, para cuidar das nossas florestas e, com isso, cuidar do nosso planeta. É uma responsabilidade de todos nós!”

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