No período de 10 a 14 de fevereiro, a vila de Alter do Chão, localizada em Santarém (PA), acolheu o Encontro Diálogo e Intercâmbios de Aprendizados: Fortalecendo os Fundos Liderados por Povos Indígenas, Quilombolas, e Comunidades Tradicionais, com objetivo de intercambiar aprendizados e fortalecer a comunidade global de Fundos comunitários, territoriais, bi e multilaterais.

Josimara Baré apresenta a Rede de Fundos Comunitários da Amazônia a outros Fundo de diversas partes do mundo. Foto: Élida Galvão

A programação reuniu cerca de 60 participantes de diversos países, que compartilharam suas experiências em um processo de aprendizado mútuo. A Rede de Fundos Comunitários da Amazônia se fez presente, representando as nove organizações que a integra: Fundo Babaçu, Fundo Puxirum, Fundo Luzia Dorothy do Espírito Santo, Fundo Quilombola Mizizi Dudu, Fundo Podáali, Fundo Timbira, Fundo Indígena do Rio Negro (FIRN), Fundo Rùtî e Fundo Dema.

Durante a abertura da programação, Josimara Baré, do Fundo Rùtî, apresentou Rede de Fundos Comunitários da Amazônia e os/as representantes dos nove Fundos Comunitários também puderam dialogar sobre as suas atuações em seus territórios, no apoio a populações indígenas, comunidades quilombolas e comunidades tradicionais.

“A Rede teve início em 2022, durante o Fórum Social Panamazônico, em Belém. É formada por Fundos criados e gerenciados por movimentos sociais da Amazônia, que atuam no apoio a povos indígenas, comunidades quilombolas e comunidades tradicionais. Compreendemos que o financiamento climático deve priorizar o apoio direto aos povos da floresta por meio de nossas organizações e mecanismos financeiros, de forma a fortalecer as organizações de base e seus territórios”, destacou Josimara.

Rose Apurinã (ao centro) compartilha sobre a atuação do primeiro Fundo indígena da Amazônia Brasileira. Foto: Élida Galvão

Convidado a compartilhar suas experiências frente ao apoio a povos indígenas, o Fundo Podáali apresentou sua dinâmica política e sua estrutura organizacional durante o encontro. Rose Apurinã, vice-diretora do Fundo, falou sobre a relação dos movimentos sociais com o Podáali, o primeiro fundo indígena criado na Amazônia Brasileira. “O Podáali surge do movimento indígena amazônico, a partir da luta por meio da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB). O Fundo tem um papel diferenciado porque ele fortalece os indígenas nas bases e esse trabalho também fortalece o movimento indígena”.
Vivenciando o protagonismo das populações tradicionais.

 

Aliando diálogos e práticas, os participantes do encontro tiveram a oportunidade de visitar um dos projetos apoiados pelo Fundo Dema, na comunidade Coroca, localizada no Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Lago Grande, um território de uso coletivo, de cerca de 250 mil hectares e de grande sociobiodiversidade, que reúne aproximadamente de 35 mil pessoas e seis mil famílias de agroextrativistas, agricultores familiares, ribeirinhos, pescadores e povos indígenas.

Na comunidade, o Fundo Dema apoiou quatro projetos. Entre as iniciativas realizadas pelas famílias de Coroca, os participantes tiveram a oportunidade de conhecer as experiências ligadas à preservação de tartarugas, ao fortalecimento da meliponicultora, valorização da produção artesanal de cestarias com palhas. A comunidade se fortalece também com o turismo comunitário, com a criação de pirarucu, o cultivo de quintais produtivos e a implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs).

“Vivemos em um território ameaçado pela mineração, pelo desmatamento ilegal, pela indústria da soja e lutamos pelo Contrato de Concessão de Direito Real de Uso Coletivo [CCDRU], que nos garante o título definitivo da terra. Temos um protocolo de Consulta”, disse uma das lideranças da comunidade, cujos projetos desenvolvidos coletivamente se fazem resistência aos conflitos vivenciados no território e cujas famílias protagonizam ações transformadoras no combate às mudanças climáticas.

Comente!

Outras notícias