Na cidade de Cali, na Colômbia, milhares de pessoas desembarcaram para participar da Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP da Biodiversidade), também denominada COP16, que ocorreu de 21 a 02 de novembro. De abrangência global, esse é o principal Fórum em que os países se reúnem para debater e negociar ações para conservação da biodiversidade. 

 

Durante esses dias, dezenas de lideranças indígenas da Amazônia Brasileira estiveram presentes, ecoando suas vozes nos diversos espaços da COP16. Entre as participações estava o Podáali-Fundo Indígena da Amazônia Brasileira, que foi construído ao longo de mais de 10 anos com objetivo de responder às demandas dos povos indígenas em ter seu próprio mecanismo de gestão e captação de recursos, de indígena para indígena.

Diretora executiva do Podáali, Valéria Paye na COP16                                                                                Foto: @‌kaititopramre

 

Para falar sobre o Fundo Indígena, diante dos debates sobre a proteção da biodiversidade e financiamento direto aos povos indígenas da Amazônia, estava presente a diretora executiva do Podáali, Valéria Paye, do povo Tiriyó e Kaxuyana, que destacou a importância dos recursos chegarem nos territórios de acordo com suas realidades.

 

“A Construção de um mecanismo para nós povos indígenas é igual a qualquer outro processo de construção indígena. Ele responde às nossas demandas e processos internos, e o processo de criação do Podáali é resultado de nossas metodologias. O Podáali definiu 8 temas centrais, para que pudéssemos direcionar nos processos de captação e dos apoios. Temas desde economia sustentável até a garantia dos direitos dos povos isolados e recente contato, esses temas fazem parte da nossa estratégia para fortalecer esses pontos como cultura e biodiversidade, entre tantos outros temas que podem ser oriundos  desses tópicos e que já estão chegando nos territórios”, pontuou Valéria. 

 

Uma das reivindicações do movimento indígena da Amazônia foi a de criação de um órgão subsidiário do Artigo 8J da CBD. Na madrugada do dia 02 de novembro na cidade de Cali, com um dos poucos avanços da COP16, o documento aprovou  a criação desse órgão permanente para tratar de assuntos relacionados aos povos indígenas e comunidades locais. Uma conquista celebrada pelo movimento indígena, no entanto em relação ao financiamento ainda não houve avanços.

 

“Os povos indígenas protegem 80% da biodiversidade do planeta, mas recebem menos de 1% do financiamento destinados à mitigação e mudanças climáticas, e isso continua sendo um dos pontos que não avançou nessa COP, mas espera-se que a partir da criação desse órgão, o próximo passo seja mais que o reconhecimento que os povos indígenas sejam os principais guardiões da biodiversidade, mas também que possam receber recursos diretos nos seus mecanismos de gestão” Pontua Valéria.

Painel “Conectando Sabedoria e Recursos: Financiamento direto para Comunidades Indígenas” Foto: @kaititopramre

Durante as agendas na COP16 também foi apresentada a Rede de Fundos Comunitários da Amazônia, como alternativa e oportunidade dos apoios chegarem diretamente às comunidades e territórios a partir de uma construção coletiva. A rede atualmente conta com 08 Fundos, entre este o Podáali.

“Falar da rede de fundos comunitários é falar de muitos desafios de construção. Somos uma rede formada por  08 mecanismos, liderados por indígenas, povos e comunidades tradicionais. Apesar de sermos diversos, nos unimos em muitos pontos. Primeiro é que nós somos da Amazônia, estamos nos territórios e somos um resultado de uma discussão dos nossos movimentos sociais, das nossas organizações. Uma outra coisa é que temos uma forte ligação com a nossa base, o lugar de onde viemos, nossa casa comum. E a luta pela demarcação dos territórios, são fundamentais para a gente como o direito que ela precede todos os outros direitos. Independente de processos, de terras demarcadas ou não, são territórios que estão ali, que vivemos, que cuidamos. Então, coloco aqui a rede de fundos como uma oportunidade, de fato, de transformar o discurso do dizer, queremos apoiar diretamente os povos indígenas, povos, comunidades tradicionais” pontua Valéria Paye.

 

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