Com a força ancestral, ocorreram entre os dias 21 e 24 de maio a 1ª Assembleia Extraordinária e a 2ª Assembleia Ordinária do Podáali, ambas em Manaus (AM).  

As assembleias, reuniram lideranças indígenas compostas por Sócios Fundadores, Diretoria Executiva, Conselho Deliberativo e Conselho Fiscal do Podáali, além da coordenação executiva da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e sua rede, representante do Fundo Indígena do Rio Negro (FIRN) e também da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB).

A 1ª Assembleia Extraordinária, que ocorreu nos dias 21 e 22, teve o objetivo de fazer a avaliação do Estatuto após 4 anos desde a fundação do Fundo Indígena. No encontro, as lideranças dialogaram em torno de suas propostas e aprovaram as alterações no documento. 

Conselheiros em processo de votação para alteração do Estatuto. Foto: Anderson Arapaço

Já a 2ª Assembleia Ordinária teve seu início na tarde do dia 22, com a defumação do pajé Anacleto Barreto, que trouxe a importância da conexão espiritual e fortalecimento do corpo para um bom andamento da reunião.

A liderança indígena, sócio fundador e membro do conselho deliberativo do Podáali, Francisco Apurinã, do povo Apurinã, ressaltou o objetivo das Assembleias.

Estivemos reunidos para avaliar os quatro anos desde a fundação do Podáali,  revisamos o estatuto e alteramos conforme pontuações feitas para melhoria. Foi um momento de relembrar os avanços, conquistas e desafios. Aqui tivemos apresentações das atividades, prestação de contas, eleição dos conselheiros deliberativos. Foi uma atividade muito importante”, pontua  Francisco.

 

Diretora Executiva, Valéria Paye e o Presidente do Conselho Deliberativo do Podáali, Toya Manchineri

A diretora executiva do Podáali, Valéria Paye, do povo Tiriyó e Kaxuyana, manifestou sua alegria de poder ver, após 04 anos, os conselheiros e sócios fundadores do Podáali juntos.

A gente teve essa oportunidade de se reencontrar e ao longo dos dias fizemos uma revisita do processo da caminhada do Podáali e nesse caminhar sentimos a necessidade de fazer adequação na estrutura do Podáali, a partir do seu documento principal que é o Estatuto. Na Assembleia Ordinária continuamos a revisitação  de todas as construções e frutos nesses anos, como a 1ª Chamada e a 2ª Chamada que está em andamento” explanou Valéria.

 

Eleição do Conselho Deliberativo

No âmbito da Assembleia Ordinária eletiva, foi realizada a eleição dos 11 conselheiros junto de seus suplentes para a composição do  Conselho Deliberativo do Podáali, para um mandato de 04 anos ( 2024-2028). Dos 11 conselheiros eleitos, 10 foram reconduzidos pela Assembleia.

Processo de votação do Conselho Deliberativo. Foto: Anderson Arapaço

O conselheiro titular por Roraima, Marcelo Macuxi, que foi reconduzido na Assembleia, ressaltou a importância de ter jovens nessa construção. 

O Podáali é uma ferramenta que começou a ser discutida há muitos anos, e eu tive o privilégio de chegar no dia da criação do Podáali em 2020, e para mim foi muito importante, porque a gente passa a acompanhar e a contribuir como juventude e como liderança e fico feliz de ser reconduzido para mais um mandato como conselheiro, estamos nessa caminhada coletiva pelo bem viver dos povos indígenas” pontuou Marcelo.

 

 

Homenagem a liderança Braz França Baré (in memoriam)

O líder Indígena e Sócio Fundador do Podáali, Marivelton Baré, falando sobre o histórico da liderança Braz França

Na programação da Assembleia Ordinária, foi feita uma homenagem ao líder indígena Braz França Baré, do povo Baré, um dos sócios fundadores do Podáali e uma liderança ativa que atuava no movimento indígena, ele ancestralizou (faleceu) em 2023, mas deixou um legado para as próximas gerações e muitas lembranças para aqueles que conseguiram conhecê-lo em vida. 

O líder indígena Marivelton Baré, do povo Baré, falou com muita emoção da liderança que se foi, ressaltando sua importância no movimento indígena do Rio Negro. 

Falar desse líder é sempre muito difícil, Braz foi diretor presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) por duas vezes, foi uma grande perda para todos nós, ele é uma grande referência para mim e para muitos outros que vêm e ainda irão vim” lembrou Marivelton na assembleia durante a homenagem.

 

A criação do Fundo Indígena

Conselheiros na plenária da 2ª Assembleia Ordinária

Conselheiros na plenária da 2ª Assembleia Ordinária. Foto: Anderson Arapaço

O Podáali teve sua fundação em 2020, mas o debate sobre a criação de um Fundo Indígena que pudesse atender às realidades dos territórios indígenas ocorreram décadas atrás, “O Podáali é fruto do movimento indígena” é o que ressalta as lideranças indígenas presentes nas Assembleias.

A liderança e sócia fundadora, Nara Baré, do povo Baré, que na época da criação do Fundo Indígena era coordenadora da Coiab, pontua os avanços e lembra como foi o processo de fundação e como nesse período os povos indígenas vivenciavam um período difícil com Bolsonaro  no poder, mas foi exatamente nesse momento que reafirmaram seu protagonismo de resistência e o Fundo foi criado.

Liderança e sócio fundadora, Nara Baré. Foto: Anderson Arapaço

Naquele ano tínhamos um governo totalmente anti indígena, mas nos unimos, foi um ano para reafirmar o nosso compromisso, a nossa essência enquanto povos originários desse Brasil, especificamente aqui para Amazônia, naquele período tínhamos pela primeira vez  na Coiab uma coordenação executiva paritária, dois homens e duas mulheres. Me sinto muito feliz de fazer parte dessa construção, dessa história, e hoje vejo esse mecanismo aqui fortalecido, crescendo, se estruturando, e é importante lembrar que todos os povos indígenas  fazem parte dessa construção. O Podáali tem esse significado de doar, de “dar sem esperar nada em troca”, porque essa é a nossa essência de povos indígenas. 

 

                                                                   “Por indígenas, para indígenas e com gestão indígena”

Com o lema “Por Indígenas, para indígenas e com gestão indígena” o Fundo Indígena da Amazônia Brasileira é o mecanismo técnico e financeiro do movimento indígena, e é com essa atuação que o presidente do Conselho Deliberativo do Podáali e Coordenador da Coiab, Toya Manchineri, do povo Manchineri, pontuou a magnitude de uma construção coletiva. 

 

Presidente do Conselho Deliberativo e Coordenador da Coiab. Foto: Anderson Arapaço

Hoje temos um mecanismo, que é o Fundo Indígena da Amazônia Brasileira, um fundo que foi construído por todos nós. E que veio para servir a todos os povos indígenas da Amazônia, então é nossa obrigação fortalecer cada vez mais o Podáali, para que possamos ter um grande Fundo indígena, com captação de recursos que cheguem cada vez mais até o chão dos territórios explanou Toya.

O coordenador da  Organização dos Povos Indígenas de Rondônia e Noroeste do Mato Grosso (Opiroma) e sócio-fundador do Podáali, José Luis Cassupá, do povo Cassupá, que vem acompanhando essa construção há muitos anos ressalta que para além de ser um Fundo é uma história viva que foi sonhada por muitas lideranças Indígenas.

Falar de Podáali, é trazer  na mente os mais de 20 anos de diálogo, estamos falando também de memórias dos nossos anciãos, que passaram por esse processo de discussão. Falar deste fundo é também relembrar um pouco os 35 anos da Coiab. Anos atrás havia essa discussão da criação de um fundo para financiar as associações indígenas e apoiar realmente a própria comunidade, fazer com que chegasse o recurso dentro do território, para as atividades econômicas, vigilância e proteção. Então, você vê que hoje o Fundo Indígena está constituído, ele existe, e sua experiência de 4 anos nos trouxe muito resultado para os territórios, como primeiro edital, atendendo aí as demandas das Comunidades e povos indígenas dentro do território” explanou José.

Após analisar as atividades e prestação de contas referente aos últimos 4 anos,  os conselheiros e os sócios fundadores do Podáali, aprovaram todas as contas do Fundo indígena.

Os Conselheiros Deliberativos eleitos na 2ª Assembleia Ordinária são: 

COIAB

Elcio Severino da Silva Manchineri (Titular)

Alcebias Mota Constantino (Suplente)

UMIAB

Inara Santos da Costa (Titular)

Marinete Almeida Costa (Suplente)

ACRE

Francisco Avelino Batista (Titular)

Lucas Artur Brasil Manchineri (Suplente)

AMAPÁ

Enzo Figueiredo (Titular)

Demétrio Amisipa Tiriyó (Suplente)

AMAZONAS

Maria Auxiliadora Cordeiro da Silva (Titular)

Herton Fabricio Rodrigues Figueira (Suplente)

MARANHÃO

Marcilene Liana Guajajara (Titular) 

Maria Judite da Silva Ballerio Guajajara (Suplente)

MATO GROSSO

Valdemilson Ariabo Quezo (Titular)

Crisanto Rudzö Tseremey’wá (Suplente)

PARÁ

Concita Guaxipiguara Sompré (Titular)

Jojoruka Xipaya Kuruaya (Suplente)

RONDÔNIA

Maria Leonice Tupari (Titular)

Mariana Ranair Aikana (Suplente)

RORAIMA

Marcello Pereira (Titular)

Enock Barroso Tenente (Suplente)

TOCANTINS

Avanilson Ijoraru Dias Aires Karajá (Titular)

Sueli Waridi Xerente (Suplente)

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