A impossibilidade da realização de um encontro presencial, causado pelo aumento repentino de casos da Covid-19 em Manaus, até tentou atrapalhar a primeira Oficina de Planejamento do Podáali, mas a adaptação da equipe superou o desafio com a apropriação de ferramentas digitais e realização do encontro na modalidade online. O encontro aconteceu entre 17 e 19 de fevereiro de 2021, com a moderação de Kleber Karipuna.

Realizada de forma remota, a oficina promoveu o engajamento e dedicação da equipe, conselheiros, lideranças das organizações e parceiros convidados. De acordo com Valéria Paye – do povo Kaxuyana e Diretora Executiva do Podáali – “a oficina teve grande sucesso e vai permitir deixar o Podáali em pé”.

No primeiro dia da oficina, o destaque foi a análise de conjuntura. A dinâmica iniciou com a apresentação de Valéria Paye sobre o histórico da caminhada do Podáali, a situação estrutural, funcionamento até o momento e como o Fundo está organizando para cumprir a sua missão. Nara Baré – presidente do Conselho Deliberativo do Podáali e Coordenadora Geral da COIAB – lembrou que “muitas pessoas dependem de nós e, assim, o Podáali chega para somar com o movimento indígena nesse apoio”. Ambas as gestoras reforçaram que o Podáali não é “mais do mesmo”. O Fundo Indígena surge como braço técnico para apoiar o trabalho político já feito pelo movimento indígena amazônico e sua rede.

Paulino Montejo – assessor político da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) – e Nara Baré (COIAB) fizeram a análise política da questão indígena no cenário nacional e regional. Os convidados destacaram alguns dos principais desafios para serem enfrentados em 2021. A invasão dos territórios indígenas pelos grileiros, pecuaristas, garimpeiros, madeireiros, além dos Projetos de Lei envolvendo gás, petróleo, mineração e hidrelétrica foram temas levantados nas falas. Diante do contexto, “O Podáali tem o papel de instrumentalizar a luta dos povos indígenas pela defesa do território”, opinou Montejo. Variantes da Covid-19, Fake News envolvendo missionários e mudanças das presidências da Câmara Legislativa e Senado também foram assuntos abordados.

O Fundo Brasil de Direitos Humanos (FBDH), a Coordenadoria Ecumênica de Serviços (CESE) e Fundo Babaçu do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) discutiram a situação dos fundos no Brasil e projetaram caminhos para os enfrentamentos do contexto para organizações como o Podáali. “Apoiar organizações que atuam com direitos humanos, populações tradicionais e indígenas é uma forma de garantir a participação dos atores sociais na sociedade civil e nesse sentido, fortalecer a democracia”, ressaltou Dimas Galvão, Coordenador de Projetos e Formação da CESE. As falas deram destaque para o esfacelamento das políticas de apoio oficiais do Governo e de instrumentos como o Fundo Amazônia. Segundo a análise feita, as organizações estão estreitando o diálogo com a cooperação internacional para garantir o apoio à agenda dos povos indígenas na Amazônia brasileira.

No segundo dia de oficina foram realizadas discussões das propostas de ações construídas pela equipe. A dinâmica de rotação dos participantes entre os quatro eixos estratégicos permitiu a variedade de proposições vinda de diversos atores. O Podáali demarcou seu compromisso com o diálogo interinstitucional e a construção participativa para pensar as várias realidades vivenciadas pelos indígenas.

Os conselheiros convidados tiveram um papel fundamental e olhar de lupa para as discussões. As participações de Maria Leonice Tupari, Ariabo Quezo, Chico Apurinã, Marivelton Baré, Avanilson Karajá, Marcello Macuxi, Puyr Tembé e Rosimere Arapasso somaram-se para o fortalecimento e o reforço da diretriz do Podáali de servir aos indígenas. “Que o nosso Fundo possa ser fortalecido e as organizações de base também sejam fortalecidas”, ressaltou o conselheiro Chico Apurinã em sua fala.

O terceiro e último dia marcou a síntese das idéias, sugestões e orientações levantadas no dia anterior com os trabalhos em grupo. Vinícius Benites (CESE) concordou que o Podáali tem “muito barro para amassar” com a equipe atual, mas já está demonstrando um “belo trabalho de gestão para um Fundo recém criado”.

Rose Apurinã – Diretora Financeira do Podáali – comemorou os saldos da oficina e agradeceu “o momento de grande aprendizado”. “Cada fala para nós nesse momento juntos é muito rica e cada vez mais reconhecemos a importância do nosso trabalho para os povos. Nosso objetivo será sempre esse: o da discussão participativa, ouvindo todos”, finalizou a indígena.
O próximo passo será reunir novamente com a equipe, para sistematizar as discussões e apresentar, até o final de fevereiro, o Plano de Ação para 2021. O documento ainda passará por apreciação no Conselho Deliberativo em reunião ordinária.

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