Em um ato representativo e simbólico, a Rede de Fundos Comunitários da Amazônia Brasileira esteve em articulação Internacional, no XI Fospa (Fórum Social Panamazônico), em San Buenaventura, na Bolívia, realizando a atividade autogestionada denominada “Encontro de Fundos Comunitários da Amazônia: Mecanismos de financiamento de povos e comunidades tradicionais”. O encontro ocorreu após dois anos desde que 07 Fundos da Amazônia decidiram se juntar e construir uma Rede com carácter comunitário, no X Fospa em Belém, no Pará, em 2022.
Uma viagem longa, do Brasil os representantes dos Fundos saíram de lugares diversos e ao longo do caminho foram se encontrando, foram cerca de três dias de viagem até chegar em Rurrenabaque, uma das cidades que sediaram o XI Fospa.
A atividade autogestionada ocorreu na tarde do dia 14 de junho, na Universidade Mayor de San Andrés, em San Buenaventura, a cerca de 05 minutos de Rurrenabaque. Para chegar até lá era preciso pegar um tuque-tuque (transporte que tem sua base em uma moto e pode transportar até 04 pessoas) e foi assim meio aos desafios e resiliência que a Rede de Fundos que é composta por indígenas, quilombolas, mulheres extrativistas, quebradeiras de coco e comunidades tradicionais, demarcou espaço mais uma vez no âmbito do Fórum Social Panamazônico.
Para o representante do Fundo Puxirum, Antonio de Freitas Brito, a Rede significa um mecanismo de subsistência e resistência, e estar no Fospa é uma forma de ecoar suas vozes além do seu território e ressalta a sintonia entre os Fundos.
“Estamos em um conjunto de representação, de comunidades tradicionais, de etnias e de povos. Então podemos dizer, a rede é uma voz forte, aquilo que um fundo sozinho não consegue, a rede em conjunto consegue, então ela é uma mais que um mecanismo de captação e de representação, é um mecanismo de resistência dos povos tradicionais” Pontua Antônio.
Com a força ancestral, o Podáali (Fundo Indígena da Amazônia Brasileira), foi representado pela diretora secretária, Cláudia Baré, e ela destaca a importância dessa construção conjunta para autonomia e fortalecimento no mecanismo de governança dos povos originários.
“Eu vejo a Rede de Fundos como uma fortaleza, com objetivo comum entre eles que é manter, conservar, cuidar da floresta, para o bem comum de todos, principalmente das populações que estão inseridas nela, e nós temos condições de mostrar para o mundo que conseguimos fazer isso, porque há milhões de anos nós fazemos isso” reflete Cláudia.
A rede de Fundos Comunitários da Amazônia Brasileira atualmente é composta por oito fundos, uma diversidade que se complementa, afirma a representante do Fundo Dema, Vânia Carvalho, que pontua a relevância dessa articulação e ressalta que já há interesse de outros fundos de fazer parte da Rede.
“Mostramos nossa articulação nessa ida conjunta no Fospa, foi um grande ponto, hoje outros fundos também têm interesse em compor essa rede, fundos com a mesma origem, que vêm dos movimentos sociais. Foi uma grande sacada, de fazermos um encontro de fundos comunitários junto com a rede. Estivemos apresentando nossas demandas, com suas posições políticas também, com nossas semelhanças e diferenças, porque tem fundos indígenas, tem fundo agroextrativista, tem o fundo DEMA que têm indígenas, agroextrativista,agricultor familiar, mulheres e etc” destacou Vânia.
Estamos na mesma caminhada, é o que ressalta o líder indígena Jonas Sansão, do Fundo Timbira, ele relata que quando foram chamados para fazer parte da Rede, se sentiu em família.
“ Nos fizeram o convite e fomos participar, vimos o trabalho, as lutas, e destacamos que estávamos no mesmo caminho, e aí começamos a caminhar juntos e aqui conhecemos as pessoas, sentir que construí uma nova família, com esse povo, e isso para mim foi muito forte, eu tava desanimado, mas conhecendo essas pessoas, me senti fortalecido” lembra Jonas.
O Fundo Timbira foi o último a se juntar aos 08 que atualmente fazem parte da Rede de Fundos. O líder indígena, Oscar de Souza, também do Fundo Timbira destaca a importância da atividade autogestionada no Fospa.
“A nossa participação aqui é fazer a troca experiências para poder nos aprimorar, e ter estratégia para fortalecer o nosso território, e nossa cultura. Foi uma oportunidade também de conhecer novos parceiros e financiadores “ressalta Oscar.
As construções em Rede ocorrem através dos diálogos, reuniões, e juntos vão se ajudando, “é um passe e repasse de um fundo comunitário para outro” é o que traz a representante do Fundo Babaçu, Marinalda Rodrigues.
“Somos um Fundo comunitário, é coletivo, um ajudando o outro, um é captador de recursos para ajudar o outro, e assim a gente vai caminhando, esse é o nosso pensamento” pontua Marinalda.
A representante do Fundo Quilombola Mizizi Dudu, Raimunda da Conceição, destacou o quão gratificante foi participar da atividade autogestionada e conseguir falar um pouco das experiências do fundo no qual faz parte, junto com outros Fundos.
“ É um momento único, estamos aqui juntos com toda nossa força somando uns com os outros, e apresentar quem nós somos e nosso trabalho é uma oportunidade de compartilharmos e buscarmos novos aprendizados” Ressaltou Raimunda.
Com uma divulgação coletiva a Rede de Fundos Comunitários veio para juntar as fortalezas, é o que retrata o representante do FIRN (Fundo Indígena do Rio Negro), Dário Baniwa.
“Não estamos sozinhos! A Rede tem uma grande importância de divulgação, de ampliação, e também essa visibilidade que dá para captação de recursos, de financiamentos de novos editais. A sensação é de muitas expectativas boas pela frente, a gente entender que há outros Fundos em construção, que possam desenvolver projetos voltados para os territórios, a sensação dessa troca de experiência, esse diálogo com outros Fundos é fundamental, porque você consegue analisar que é uma necessidade, é uma demanda Global, e que a gente possa continuar fazendo essa troca, esse intercâmbio de conhecimento das experiências da Rede de Fundos da Amazônia Brasileira” reflete Dário.
Trazendo toda sua bagagem, o Fundo Luzia Dorothy do Espírito Santo, representada por Marta Maria, pontua que essa participação conjunta através da Rede fortalece suas atuações.
“Estamos aqui em rede, estamos aqui para apresentar essa nossa construção que fizemos e estamos fazendo na coletividade” destacou Marta.
O objetivo da atividade autogestionada no XI Fospa, foi de aprofundar o entendimento sobre os fundos comunitários, suas atuações, abrangências, compromissos e princípios, além de demonstrar a importância desses fundos na promoção da sustentabilidade e na autonomia financeira das comunidades locais.
Além de participarem da autogestionada, os integrantes da Rede de Fundos Comunitários também puderam participar de outras atividades no âmbito do Fospa.
Sobre o XI Fospa
Foram três dias de diálogos, com participação de mais de 1.500 pessoas vindas de diversos lugares dos países que fazem parte da bacia amazônica. O objetivo foi de fortalecer alianças entre atores sociais da região para troca de experiências e construção de estratégias de ação em defesa da Amazônia, a fim de gerar impacto nos níveis local, nacional, amazônico e internacional.